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Olá pessoal, aqui é o Ricardo Vargas e esse é mais um 5 Minutes Podcast. Nós vimos na semana passada a inauguração da Notre Dame e eu nunca me esqueço, no dia 15 de abril de 2019 eu estava participando no primeiro dia do TED 2019 na cidade de Vancouver, quando na hora do intervalo eu olhei assim no meu telefone e vi assim Notre Dame em chamas. Sem dúvida nenhuma, foi uma das imagens mais impactantes, porque, sem dúvida nenhuma, a Igreja de Notre Dame. Ela é icônica. Ela é um símbolo da França, é uma referência das mais visitadas do mundo, um patrimônio cultural gigante. E eu imaginei naquele momento, falei vai ser muito, muito difícil a gente conseguir recuperar isso. E eu queria discutir hoje, cinco anos depois, alguns insights que aconteceram nesse projeto, que a gente pode aprender muito. E o primeiro deles é a definição de metas ambiciosas. O mundo inteiro foi muito cético quando o presidente francês Emmanuel Macron. Ele criou um cronograma para a restauração, buscando coincidir a reinauguração com as Olimpíadas de Paris em 2024. A Olimpíadas aconteceu alguns meses atrás, mas na época isso era uma coisa para lá de ousada. Muitos especialistas falaram que seria impossível e isso parece que esse desafio, assim como quando Kennedy falou de levar o homem à Lua na década de 60, isso impulsionou uma inovação gigantesca, seja o estabelecimento dessas metas agressivas, porém claras, ele criou uma mobilização para buscar soluções bastante criativas, como eu vou falar daqui a pouco para os problemas a serem enfrentados.
E a gente conseguiu, é lógico, Não ficou pronto para a Olimpíada, mas ficou pronto alguns meses depois, o que é extremamente gratificante, porque muita gente achou que isso não ia ficar pronto absolutamente nunca. E o segundo ponto importantíssimo que eu quero falar é a excelência na gestão das partes interessadas ou dos stakeholders. Primeiro, quase 1 bilhão €. Vou repetir 1 bilhão € para quem está no Brasil. Isso é mais de 6 bilhões R$, foram doados por mais de 340.000 pessoas no mundo inteiro, incluindo as pessoas mais ricas da França, onde foi necessário o que? Criar uma transparência financeira em um modelo de prestação de contas. Porque, sem dúvida nenhuma, esses doadores queriam saber como os recursos seriam utilizados. Outra coisa é nós estamos falando de um patrimônio histórico. Então, especialistas em preservação, órgão governamentais, a Igreja Católica, o público, todo mundo tinha que colaborar, criando uma integridade assim histórica, com o debate da modernização. Ou seja, se a gente mantiver isso totalmente histórico, bem o que que vai impedir de a gente ter um outro incêndio e destruir tudo? Ou se a gente fizer a modernização, como é que vai ser? Nós vamos descaracterizar a Notre Dame. E esse debate foi super controverso, principalmente o design da torre, que é aquele ícone que fica no meio. Se era para ser um moderno, um design completamente moderno, um design histórico e acabou que eles conseguiram se alinhar em torno da escolha da autenticidade histórica, que era um sentimento público.
Então, olha só, aquilo não era uma fábrica com um dono, não era um evento. Nós estamos falando num patrimônio cultural de uma das cidades onde o patrimônio cultural é dos mais relevantes do mundo, onde você tem uma influência religiosa, uma influência governamental, uma influência de preservação. Isso tudo, e um desastre que foi esse incêndio, então olhem só a excelência que eles conseguiram mostrar na gestão desses stakeholders durante esses cinco anos. Além disso, esse projeto não foi fácil, mas não foi fácil em nenhum sentido. Praticamente tudo de ruim que pudesse acontecer acabou acontecendo. Primeiro esse prédio. Ele derreteu o telhado e esse telhado antigo da igreja era feito de chumbo e você tinha um risco enorme de contaminação por chumbo para os trabalhadores e para as comunidades. Então tiveram que criar um processo completamente único para evitar para você conseguir retirar esse todo chumbo derretido sem necessariamente contaminar os trabalhadores, contaminar a região ao redor da igreja. Segundo, não esqueçam a Igreja queimou em 2019 e em 2020 veio o Covid. Então nós tivemos todo tipo de disruptura nos trabalhos, restrições sanitárias que impactaram o cronograma etc. E aí, o que acontece? Isso impactou em muito pouco os prazos, ou seja, eles tiveram que se adaptar, criar protocolos de sanitários rigorosíssimo para continuar trabalhando e não atrasar ainda mais isso. E como se não bastasse, eu já gravei vários podcasts falando sobre o gerente de projeto, o gerente e líder desse projeto, o general Jean-Louis Jorge, morreu durante o projeto.
Ou seja, foi um golpe emocional, porque, além de tudo, ele era uma fonte inspiradora para aqueles trabalhos. Então, ou seja, a equipe ainda teve que manter moral, foco e resiliência diante de eventos tão disruptivos. É, o quarto item que eu queria; inovação e tradição e harmonia, onde você usou tecnologias extremamente avançadas como digitalização em 3D, utilização de BIM, gêmeos digitais para fazer um planejamento muito preciso da construção. Agora essas ferramentas foram combinadas com técnicas tradicionais, com o uso de ferramentas manuais. Só para vocês terem uma ideia. Mais de 1000 artesãos, repito, artesãos. Não é máquina de diversas especialidades trabalharam diariamente nesse projeto e só por curiosidade, mais de 1000 carvalhos, alguns deles com mais de 200 anos, foram selecionados em toda a França para reconstruir aquela estrutura icônica de madeira do telhado. Então, olha só, foi uma combinação de ferramentas modernas com métodos tradicionais, ou seja, métodos onde você tinha uma dificuldade de encontrar qual era o artesão que tinha a capacidade de fazer isso e, finalmente, o equilíbrio entre a qualidade e a velocidade. Ou seja, a equipe trabalhou de modo incansável para cumprir o cronograma. Ou seja, é lógico que existia ali um objetivo extremamente forte em conseguir entregar isso no prazo. Só para vocês terem uma ideia, só a estabilização da estrutura, porque é claro, quando queimou a estrutura ficou toda prejudicada. Levou dois anos para ser feita. Né, sistemas hoje modernos de prevenção de incêndio. Foram discretamente integrados. Ou seja, você integrou todos esses sistemas de segurança sem, é lógico, prejudicar a integridade e a estética histórica dele.
Então, ou seja, você conseguiu criar um ritmo de precisão e etc. Eu juro para vocês, eu ainda não fui lá. Eu fui lá durante a reconstrução, mas não vi ela pronta. Mas é sem dúvida uma coisa importantíssima para a gente pensar o seguinte como você vê, integra as variáveis das mais diferentes áreas, ou seja, de remover 40.000 peças de andaime que foram calcificados, calcinadas pelo fogo, a fazer a digitalização, a perder o gerente de projeto. Ou seja, como você consegue criar um projeto que até então está sendo inaugurado com muito louvor, usando dinheiro de doações, etc, com total transparência. Ou seja, é uma lembrança vívida do impacto da liderança, da capacidade, do equilíbrio que a gente precisa ter entre tradição e inovação. Acho que esse é um assunto extremamente interessante para a gente falar e para a gente refletir sobre os projetos que a gente faz. Ou seja, olhem a natureza da complexidade histórica e cultural desse projeto e o quanto esse projeto pode servir de exemplo para o nosso dia a dia. Eu queria só finalizar agradecendo ao Daniel. Daniel me mandou um pedido no LinkedIn para poder gravar esse podcast. Eu falei poxa, eu vou dar uma estudada nele e vou tentar gravar. Então Daniel, esse podcast aí em sua homenagem, Obrigado, e a todos vocês, um grande abraço e até semana que vem com mais 5 Minutes Podcast.